«Despertar noutro ser humano poderes e sonhos além dos seus; induzir nos outros um amor por aquilo que amamos; fazer do seu presente interior o seu futuro; eis uma tripla aventura como nenhuma outra. (..) Uma sociedade como a do lucro desenfreado, que não honre os seus professores, é uma sociedade defeituosa.» (George Steiner) |
Metodologias de Análise do Texto e do Discurso
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Licenciatura em Comunicação nas Organizações
Ano lectivo 2004/05
1o Ano — 2º Semestre
Professor Doutor Luís Filipe B. Teixeira
Dra. Carla Rodrigues Cardoso
Sinopse
Esta cadeira pretende, a partir duma problematização preambular dos próprios conceitos de «metodologia» e de «análise», atingir os seguintes objectivos, a saber:
a) uma abordagem textológica por referência à constituição do «círculo hermenêutico» e a uma sua (re)formulação com base numa perspectivação da noção de «autor/sujeito hermenêutico» e de «crítica» (versus «crítico»);
b) A noção de «texto» por relação com as tentativas de se superar a distinção entre «compreensão/explicação»;
c) Os conceitos de discurso, enunciado, texto e análise textual;
d) O contacto, exercitado, com a análise de um mesmo tema (o mito de Édipo) visto sob várias perspectivas;
e) Destrinçar a análise da narrativa em Publicidade.
Avaliação
A nota final de Metodologias de Análise do Texto e do Discurso resultará de uma média ponderada entre dois momentos de avaliação — a frequência (70%) e a componente prática (30%). Os alunos com média igual ou superior a 12 (doze) estão dispensados de Exame Final. Os que obtenham nota igual ou superior a 8 (oito) valores e inferior a 12 (doze) valores têm acesso ao Exame de 1ª Época. Alunos com média final inferior a 8 (oito) valores só poderão ser avaliados em Exame de 2ª Época.
Nesta disciplina teórico-prática existe regime de faltas. Os alunos que ultrapassem os 25% de faltas no semestre ficam automaticamente reprovados, tendo acesso apenas ao Exame de 2ª Época.
Programa
Preâmbulo: Os conceitos de «Metodologia» e de «Análise»
Parte I: Do sujeito hermenêutico ao texto discursivo
1. O Sujeito como Instância Hermenêutica
1.1. Hermes, hermeios, hermeneia, hermeneuein
1.2. Sujeito da Interpretação: o que é «interpretar»?
1.3. O Leitor e a Interpretação.
1.4. A interpretação como exercício lúdico: interpretação/expressão.
1.5. A noção de «crítica»: crítica e comentário.
2. Do Texto à Dialéctica Interpretativa: Discurso, Enunciado e Texto
2.1. O que é um TEXTO?
a) A Escrita e a Re-escrita ou a leitura como trabalho significante
b) Escrita: Progresso ou Veneno?
2.2. Qual é o TEXTO?
a) Tipos e Géneros de Discursos: Texto Fechado e Texto Aberto
b) O Paradoxo Temporal da Narrativa de Ficção
c) A Narrativa como Transformação
d) Finalidades da Narração
2.3. Análise textual
a) Análise estrutural versus análise simbólica da narrativa
b) A Semiótica versus a Hermenêutica da Narrativa
c) O mito como sistema semiológico
d) O mito como sistema simbólico
Parte II: Casos práticos
A ) Um mesmo tema com variações: o mito de Édipo
1. Freud e o paradigma psicanalítico
2. A determinação do texto no formalismo russo: V. Propp e a análise dos contos populares
3. A perspectiva estruturalista: Lévi-Strauss e a análise dos Mitos
B ) Análise de narrativa em Publicidade
Bibliografia
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VAN SCHOOR, Marthinus, What is Communication?, Pretória, J. L. Van Schaik, 1982.